LUIZ REGIS GALVÃO
Nascido em Barretos, no dia 21 de fevereiro de 1937, Luis Régis formou-se em Direito pelo Mackenzie, em 1963.
Ele atuou como promotor de justiça pela 2ª Vara Cível de Catanduva entre 1968 e 1987 e advogava na cidade desde 1988. Foi curador da Fundação Padre Albino (FPA) por 15 anos. Era o último remanescente do tradicional “Casarão da Rua Amazonas”, onde funcionava a antiga sede do Fórum..
Luiz Régis foi colaborador dos jornais “O Regional” e “Opinião”, com colunas e artigos e foi autor de vários trabalhos jurídicos publicados em revistas especializadas. Ele realizou obras literárias, entre elas “Avenida Paulista” e “Bicicleta Amarela”. Faleceu com 73 anos, vítima de uma infecção pulmonar, em 2010.
ANTOLOGIA DOS NOVÍSSIMOS. São Paulo: Massao Ohno Editora, 1961. “Coleção dos Novíssimos” vol. 9. Capa de João Susuki. Ex. bibl. Antonio Miranda
MEU DOMINGO...
eu quero ser esquife!
uma tarde de domingo
por dobre de sinos
a sinfonia do vento
colhendo as folhas do chão...
por lágrimas,
quero cuspir de chafariz
insultando praças
enfeitadas de domingo...
o domingo é triste
porque sempre morro nele...
inspira a tranquilidade hipócrita
dos perturbados!
tem balões coloridos
que mentem poesias
na roupa nova dos mascates...
que defloram seus parques...
ah domingo de meu enterro!
só quer por saudade
a sua missa das sete...
por sepulcro quer a laje morna
do seu sol sem manhãs...
beberei assim outras semanas
sem esperanças de segundas feiras
levando comigo a única mágoa
de morrer num domingo sem ter sido poeta...
MEU NADA...
eu que passo despercebido
no asfalto molhado,
tateando sombras,
e colhendo amarguras
na raiz de cada sonho;
eu que passo esquecido que sou uma gota de brisa
na metamorfose da matéria;
eu que sou ser ninguém;
pecando esperanças e mentindo ilusões
“as razões que o próprio coração desconhece”
eu que passo despercebido
pela alameda mentirosa das coincidências”
procurando no acaso das dúvidas
o regozijo insatisfeito dos humildes;
que sou tudo sem ser nada
dos trilhos que a acariciam...
procurando decifrar
que sou eu dentro de mim...
AVENIDA PAULISTA
é uma longa avenida
que começa onde acaba
o fim de seu princípio...
simétrica e triste
ela se deita barulhenta
no asfalto que a agasalha...
nunca desperta,
porque nunca adormeceu...
De seu passado ainda resta
a paralela neuróticas
dos trilhos que a Acariciam...
sua paisagem vive imersa
na mata-galeria de arranha-céus
que ladeiam seus braços longos e tristes...
longos e tristes...
é apenas uma avenida!
uma avenida sem praça
que se deita na sombra
sonhando com sol...
uma avenida que bebe tradição
nas poucas mansões que lhe emprestam
um pedaço de passado.
é uma avenida de cabelos brancos
que traz no peito de cada esquina
um gosto de domingo
nos balões que disfarçam
a esquizofrenia de sua paisagem...
A BICICLETA AMARELA
tinha rodas de lua
em pneus cheios de nuvens
a bicicleta amarela
que minh´alma pedalou...
ainda cheirava natal
o primeiro tombo que me deu...
(foi a única vez
que acreditei em papai-noel)!
crescemos juntos:
eu e a bicicleta amarela!
suas rodas beberam ruas
e mastigaram a poeira
das alamedas de minha infância...
trazia em sua garupa
o orgulho infantil
de possuir naquela rua
uma bicicleta amarela!
passaram-se os anos...
asfaltaram as ladeiras!
eu cresci mais do que ela...
apagaram com cimento
a saudade que suas rodas desenharam nas ruas!
seus passos de nuvens
derreteram-se no vento
e a lua de suas rodas
trocou de estação!
a bicicleta amarela ficou doente
e morreu de solidão!...
CIGARRO APAGADO
porque vieste de repente
na fumaça do cigarro?
eu me esquecera de ti
na última tragada...
faz tempo!
foi nas cinzas de ontem
que fumei beijos
na fumaça dos teus olhos...
hoje,
eu sou um cigarro apagado
feito n´alma do fumo molhado...
procuro esquecer-te na brasa do passado
mas só encontro tédio
no gelo da lembrança...
*
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Página publicada em junho de 2021
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